Essa é uma história fictícia
Mas que não passa muito longe da realidade dos tempos sombrios que a gente vive
Ela se chama Fiéis
A inquisição nos tempos da intolerância pós-moderna
Dentro era eu, preso numa cela
Alimentado à base de tortura e medo
Atração no camarim, enorme espera
Endiabrado e sujo nesse pesadelo
Demorou, mas chegou o grande dia
O grande templo, o grande palco ornamentado
Na multidão formada por pobres coitados
Olhos de fé tão cega que eu desconhecia
Caminhei ameaçado e agredido verbalmente, moralmente
Pelo pai e pelo filho
Holofotes me cegavam à medida que vozes eloquentes
Exaltavam um poder que eu não via
Cantaram canções sombrias
Lembraram mais das dores do que da vontade de saná-las
E eu, imóvel amarrado a uma cadeira em meio a monstros
Com uma áspera textura nas palavras
Perguntaram para o céu se era a hora
Fecharam os olhos e pediram piedade
Tiraram meus sapatos e junto com eles meus pés
Num só golpe que ecoou pela cidade
Mas o que mais me preocupou naquela hora
Foi o sorriso confortável dos fiéis
O que mais me preocupou antes de ir embora foi o sorriso confortável dos fiéis
(Foi, foi, foi, foi) Foi o sorriso confortável dos fiéis
Acreditei em mais de mil religiões ao mesmo tempo
Quando vi o horror de perto então pensei
Pra quê? Por quê? Quem leva o grande prêmio por isso?
Um grande líder com dinheiro dominando um povo omisso
Terrível um sujeito intolerante e comum desses ter controle sobre tanta gente pobre
Dizer mostrar um bom caminho pra uma vida
Negligente, inadimplente e ainda por cima
Levar os créditos por uma ligação com Deus
Promover jogo de azar legalizado e não pagar impostos
Comandar uma emissora de TV com certeza nunca foi um mal negócio
Mas antes de poder fechar meu raciocínio
Deram as mãos e em voz alta soou uma oração
Me enrolaram uma corda em torno do pescoço e num segundo veio a dita salvação
Mas o que mais me preocupou naquela hora foi o sorriso confortável dos fiéis
O que mais me preocupou antes de ir embora foi o sorriso confortável dos fiéis
(Foi, foi, foi, foi) foi o sorriso confortável dos fiéis
(Foi, foi, foi, foi) foi a passividade morna dos fiéis
Com certeza nunca foi um mal negócio, fiéis, fiéis)